dezembro 24, 2009

Kind of Blue

Decorria o ano de 1959, e o músico Miles Davis decidiu surpreender tudo e todos com mais uma das suas....Depois de ter quebrado um enorme tabu jazzistico com o Birth of The Cool uns anos antes (1949/50), chegou a vez de Kind of Blue, essa sublime obra, por muitos caracterizada como uma pedrada no charco, devido aos poucos recursos de ordem técnica aplicados, mas de elevadíssima riqueza e ambiência sonora . Quebrou a tradição que vinha vindo a desenvolver no domínio de um hard bop, embora algo tímido e começou a desenvolver a modalidade, ou o Jazz Modal (termo muito utilizado e reclamado pelo pianista e criativo George Russell). A simplicidade de recursos técnicos associados a um elenco de luxo, tornou o Kind of Blue numa das mais perfeitas (e vendidas) obras de jazz da Historia universal da música.Conhecido pelo seu feitio difícil, Miles Davis surgiu mais calmo e mais "doce" que nunca!Uma obra realizada no céu, diria Jimmy Cobb, baterista de serviço nesta sessão.Muito já se disse sobre Kind of Blue, musicólogos, revistas da especialidade, músicos, críticos, etc... e uma coisa é consensual, é uma obra actualíssima, muito embora já se tenham passado 50 anos da sua realização. Tem frescura e é de culto.Há quem defenda que Miles Davis foi um visionário, um homem muito avançado para o seu tempo, numa América racista e castradora. Aos negros era destinada a franja da sociedade em vários domínios (cultural, social, politico, religioso, laboral) o sistema de oportunidades não era semelhante entre brancos e negros. Até nesse campo Miles Dewey Davis Jr. III, era um privilegiado pois provinha de uma família negra de classe média alta (o pai foi um dos primeiros dentistas negros).Não dotado de recursos musicais eclécticos, o nosso trompetista tinha uma capacidade criativa muito acima da média, diziam que podia dar um concerto só com variações de três acordes!Kind of Blue não é uma obra tecnicamente pungente, não transporta nos seus genes, os acordes vertiginosos do be bop, nem do hard bop, é uma obra inovadora e completamente intimista. Não há uma tensão no ar, não temos vontade de nos abanar, mas sim de flutuar, entrar em estado gasoso, levitar. Nirvana puro.Composto na sua versão comercial/original por 6 faixas gentilmente gravadas na Columbia Legacy Records, Kind of Blue, reuniu a nata jazzistica musical daqueles tempos. Com músicos uns mais conhecidos que outros, todos eles embarcaram numa viagem de sonho para a posterioridade. Momentos de estúdio de grande tensão devido ao feitio de Miles Davis também não faltaram! É de conhecimento público a pouca simpatia de Miles por músicos brancos, diz que teve alguns dissabores com Bill Evans ao gravar "Freddie Freeloader", disse que o som/acordes estavam "brancos" demais, foi quando chamou para a sessão um pianista negro só para gravar uma faixa! O feliz contemplado foi Wynton Kelly só assim ele conseguiu a expressão e tonalidade que queria dar ao tema. Muito exigente, obsessivo. Tinha olho clínico, moderava entre os melhores e os talentos emergentes.

Músicos:
Miles Davis- Tp
Julian Cannonball Adderley- sax alto ( excepto blue in green)
John Coltrane- sax tenor
Bill Evans- Piano (excepto freddie freeloader)
Wynton Kelly-Piano
Paul Chambers- Bass
Jimmy Cobb- Drums

Estes sete músicos entraram em estúdio e mudaram o percurso do jazz moderno . Será que foi noutra dimensão? Não digo metafisica, mas musical/ sonora foi com certeza. É um registo único, não se fez mais nada parecido até então!Homenagens pelo mundo jazzistico aconteceram pelo mundo inteiro a comemorar estes 50 anos tão jovens, muitos prestam vassalagem a esta pérola musical.Obra que mudou consciências estéticas e maneiras de estar.Os teóricos dizem que uma colecção de jazz sem o Kind of Blue, não é uma verdadeira colecção! A mim parece-me óbvio...

Publicado por Rafael Pereira

O DISCO em documentário.


Outra versão c/ legendas em francês



Kind of Blue-O tema Blues in Green

Edição comemorativa na AMAZON
Edição original, remix, em CD na AMAZON

3 comentários:

Rita Costa disse...

Correto e preciso são dois dos adjectivos que vêm à minha mente quando leio seu texto sobre o “Kind of Blue” do Miles Davis! O disco funciona que nem um divisor de águas, sendo apreciado e aplaudido por várias gerações de músicos e pessoas comuns dentro e fora dos limites do jazz. Porque, na verdade, com este disco o jazz perde as fronteiras, mesmo! A música de Miles é elevada, sublime e arrasadora se você escutar com a atenção que ela merece. Não sei quais são suas paragens obrigatórias mas deixo a sugestão de uma que eu checko a toda a hora para as novidades dentro e fora do jazz! http://cotonete.clix.pt/ é um site bastante completo de rádio e música.

Rafael Pereira disse...

Ola e obrigado por participares neste espaço. Fico muito contente pelas tuas palavras, é sempre bom encontrar pessoas que partilham dos nossos gostos. Participa com as tuas opiniões és muito bem vinda Rita Costa.

Eurico Moura disse...

Rita: Obrigado pela sugestão.
Para quem sobretudo ouve jazz sugiro uma visita a accujazz.com. O link está nos favoritos Mais Música aqui mesmo ao lado...