Festejo o dia Internacional da mulher com uma grande senhora da música Joan Baez, representou uma geração de contestatários contra as politicas internas e externas Norte Americanas. Tem uma carreira extensa e também trabalhou com músicos associados ao Jazz, como é o caso do exemplar e recomendado Diamonds & Rust.
Aqui a solo,
Diamonds and Rust (Joan Baez)
11 comentários:
Boa Rafael!!
Vivam as mulheres!!
E com uma letra violentíssima contra o que parece ter sido o carácter execrável do Bob Dylan.
http://www.youtube.com/watch?v=favgoOn-U1I
Uma das que hoje mais me agrada. A voz está mais redonda e acho que de um modo geral aguentou bem a passagem do tempo.
Seja bem aparecida ML, já sentíamos a sua falta, parabéns pelo dia de hoje.
ML:
Boa performance, sem dúvida. Mas aqui ainda era muito jovem. Vai fazer 70 para o ano e já não tem o mesmo aspecto. De espírito não sei.
Obrigada, Rafael.
Apesar de a minha mãe sempre ter achado que eu tinha um dia-a-dia mais difícil do que a dela por ter que atender a vários departamentos, não há comparação possível.
Hoje é o dia da ‘Calçada de Carriche’, de António Gedeão, mas eu prefiro um poema bastante mais esperançoso. É uma das razões porque gosto de Gedeão, com imagens muito visuais e claras fala das ideias.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
[...]
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.
(Poema para Galileu)
ML: Que não seja por isso. Pode haver quem não conheça.
Calçada de Carriche
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
(António Gedeão)
Fez bem, Eurico, há muita gente que não conhece o Gedeão e para mim é um dos poetas que, pelas características particulares da escrita, é capaz de chamar os mais arredios.
A 'Calçada de Carriche' já não tem muito a ver com o Portugal de hoje, felizmente. Continua actual sobre alguns aspectos, e muitos deles principalmente pela calada, mas não é já o protótipo da situação da mulher portuguesa.
Mal seria.
ML:
Eu não seria tão optimista...
Conheço muita mulher a quem esse poema se aplica. Infelizmente. Dois empregos, dois filhos ou mais e o homem lá de casa não mexe uma palha no lar.
Eurico, não digo o contrário, mas andámos já muito caminho. Lembro-me de em pequenita estar sentada ao lado da costureira a fazer bonecas de pano e ouvir as conversas das mulheres que por ali andavam. Pensavam que eu não percebia, e julgo que na altura não tinha a noção exacta do significado, mas hoje sei muito bem de que falavam. E comentavam situações terríveis, encaradas com resignação. Não porque estivessem de acordo, mas porque pensavam que o mundo era assim mesmo e não havia nada a fazer.
Com os anos vi mudar muita coisa, a começar pelo modo como eu fui educada para menina e os meus irmãos para meninos, embora os meus pais até fossem relativamente liberais.
Sempre tive a noção exacta, desde muito cedo, que a ligeireza com que os rapazes viviam certas situações correspondia a uma responsabilização absoluta das raparigas.
Hoje já não é bem assim e nem falo na legislação. A lei não é tudo, mas ajuda a refrear muitos impulsos, maus feitios e lógicas exploradoras.
Ouvi há pouco que a Joan Baez, que ontem actuou na Casa da Música, cantou a 'Grândola Vila Morena' e que a achou difícil de interpretar.
Gostava de ouvir, já agora, mera curiosidade. Se a encontrarem por aí, agradeço.
Parece que não houve autorização para as TVs gravarem, mas há sempre os incontornáveis telemóveis.
ML: Estarei à coca! :o)
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